quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Canto da Desilusão

Um dia meu corpo foi pequeno
mas Eu,
Eu era grande;
Grande demais
sonhador demais
poderoso demais.
Vivi na iminência de grandes realizações
incentivado por grandes expectativas
Eu estava pronto para ser maior.
Então virei jovem.
Minha mentalidade imberbe foi surpreendida
por meu queixo de vanguarda
e aos meus heróis guerrilheiros
dediquei barba
brinco
lenço
poemas.
Fui poeta promissor
poeta produtor
poeta criador
poeta amante
poeta amador.
Troquei sim
mil vezes
de bandeira.
Troquei sim
milhões de vezes
de discurso.
Personalidade errante, volúvel,
procurando subsídios,
solo duro,
solo fértil,
solo firme.
Mas a palavra não foi suficiente.
Na beirada das ações
no limiar da grandeza
na fronteira de algo finalmente grande,
precisei abrir os olhos.
E chorei.
Porque a nova ordem não chegou
por que os homens estão cegos
por que NADA que foi dito
por que NADA que eu possa dizer
vai fazer alguma diferença.

Desculpe-nos Nietzsche e seu homem superior
Desculpe-nos Jesus e seu fatal amor
Desculpe-nos Perón, e desculpe-nos Perón
Desculpe-nos Guevara, olvide la revolución

Nenhuma bandeira até hoje
foi digna de ser hasteada
Minhas ideias estavam erradas
minhas conjecturas estavam erradas
minha barba estava errada
Meus sonhos de criança,
não os verei realizados
não enquanto viver
não nesse passo
E vou morrer com a dura perspectiva
de que NADA que foi feito
de que NADA que eu possa fazer
vai abrir os olhos da minha geração
perdida
cega
surda
muda.

Desculpe-nos Mahatma
Desculpe-nos Calcutá
Desculpe-me Allen
Desculpe-me Kerouac

Pra você que começou
e deixou pra eu terminar
com lágrimas nos olhos
venho anunciar
Vocês falharam
Me fadaram a falhar.

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